Ainda ecoa a imagem do Papa Francisco, solitário, na
praça de São Pedro, naquela tenebrosa Sexta-Feira Santa.
Praticamente um ano se passou e estamos novamente na
quaresma, este tempo litúrgico que clama por conversão.
Neste ano, vivido ainda na anormalidade, algo nesta
quaresma nos é exigido de novo: a necessária síntese do que
fizemos com esse tempo desafiador. Ele ainda não terminou,
mas vislumbramos seu fim. Nesta preparação para a
Páscoa, olhar com lucidez a vida com este novo olhar que
nos foi imposto, é uma tarefa obrigatória. Que fazer com o
silêncio dos que nos foram tirados? Que significa toda essa
angústia? Qual a origem de tanta desolação?
Seria um pecado não nos modelarmos a partir da
experiência de deserto feita por todos nós. Quaresma é ir ao
deserto. Do tripé espiritual da oração, do jejum e da esmola,
exercitamos nossos corações a um retorno ao essencial. Sim.
Exercícios. Pois são atitudes próprias do cristão o sempre
rezar, o sempre jejuar e o sempre doar. Na quaresma, isso
é feito de maneira mais intensa servindo como que a um
regresso ao que a rotina das
banalidades nos tira.
Se ainda não abandonamos
absolutamente tudo ao Senhor
durante essa “quaresma” que
dura desde o ano passado,
este novo tempo litúrgico
nos oferece a oportunidade.
Como Jó, tudo entregar a Ele.
Entregar a família, os amigos, o
emprego, os estudos, as posses.
Tudo. Totalmente. E, com muito
pouco a ser compreendido,
dizer sinceramente: Jesus, eu
confio em vós.
Há também o propósito
quaresmal. Aquela decisão de
uma mudança de vida expressa
em algo concreto. Pode-se, porém, ousar no propósito.
Conheço pessoas que a cada Quaresma assumem um
compromisso novo para a vida, e não até a celebração
da Páscoa. Aumentam dez minutos da sua oração
diária. Passam a ir à Santa Missa com mais frequência.
Inscrevem-se como voluntários em alguma organização
caritativa. Passam a ser catequistas. Enfim, fazem desse
momento do ano um verdadeiro tempo de conversão. Um
tempo de real salvação.
Crise é oportunidade. Estamos em uma. Aproveitemos
os clamores para mudar de vida. Não caminharemos
sozinhos. Alguém que já subiu ao Calvário subirá a ele
novamente conosco. Nossa Senhora é Mãe, e mãe não
deixa sozinho. Unamo-nos aos primeiros cristãos nesta
quaresma, e com eles, como expressão de confiança, na
oração possamos dizer: “À vossa proteção recorremos,
Santa Mãe de Deus”.